“Fizeste-nos para Vós, Senhor – e o nosso coração está inquieto, enquanto não repousa em Vós”. (Santo Agostinho)

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sábado, 10 de março de 2012

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Introdução

Propomos nesta presente obra falar sobre Nossa Santíssima Mãe Maria durante os séculos. Mostrando seus mais diversos títulos e depoimentos dos padres da igreja sobre ela.
Procuramos também descrever a situação histórica de cada século tanto na igreja quanto no mundo para que possamos melhor entender os pensamentos dos padres.

Século I

Após, ao arrebatamento de Senhor Jesus Cristo, “Voltaram eles então para Jerusalém, distante uma jornada de sábado. Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago. Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele.” (At. 1, 12-14).
Com esta passagem Lucas nos dá o primeiro titulo de Maria dentro da igreja que está nascendo assim, nos mostra o lugar de destaque que já aqui tem ela. Com carinho e ao mesmo tempo destacando – a das demais cita seu nome assim como o dos apóstolos. Por ser a “mãe de Jesus” (At. 1,14) ela merece ser mencionada. Como uma mãe que ensina com seus exemplos ela põe-se em oração com agora seus novos filhos e filhas que na cruz seu Filho unigênito os entregou.
A mãe de Jesus é sem dúvida um título de honra que será respeitado pelos verdadeiros cristãos, pois assim como os apóstolos a aceita nos seu meio e a tem sobre todas as outras mulheres, pois ela é a “mãe de Jesus” (At. 1,14).
Durante o primeiro século da igreja segundo Daniel-Rops os apóstolos preferia - se denominar irmãos “para designarem a misteriosa comunhão que selava o seu acordo mútuo” reunia – se numa nova comunidade que em (Atos 1, 12-14) como citado acima possuía uma mãe que era a mãe de seu irmão mais velho, mestre e amigo, que por meio dele os permite dizer Pai nosso.
Assim Maria será recordada durante o primeiro século onde as pessoas viram os milagres de Jesus e custam a acreditar que ele é também humano e que ela O gerou. Os apóstolos ao anunciar a encarnação do Senhor buscam frisar este fato.

Século II

A partir do século II começaram a surgir as heresias. O marcionismo de Marcião de Sinope que dizia que havia dois deuses, um deus bom e um mal foi uma das primeiras. É neste século também que são escritos vários evangelhos apócrifos como o Proto-Evangelho de Tiago, Trânsito da Santa Maria entre outros.
Neste período é relevante citar os escritos de Santo Irineu de Lyon onde ele dá a Maria o título de advogada e escreve também sobre sua virgindade.

"Mesmo Eva tendo Adão como marido, ela ainda era virgem ... Ao desobedecer, Eva tornou-se a causa da morte para si e para toda a raça humana. Da mesma forma que Maria, embora tivesse um marido, ainda era virgem, e obedecendo, ela tornou-se causa de salvação para si e para toda a raça humana" (Adversus haereses 3:22)

"A Virgem Maria... sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que ela daria à luz Deus". (Contra as Heresias V, 19,1)

“Como por uma virgem desobediente foi o homem ferido, caiu e morreu, assim também por meio de uma virgem obediente à palavra de Deus, o homem recobrou a vida, Era justo e necessário que Adão fosse resgatado em Cristo, e que Eva fosse restaurada em Maria, a fim de que uma virgem feita advogada de uma virgem, apagasse e abolisse por sua obediência virginal a desobediência de uma virgem” (Prof. Felipe Aquino, Escola da Fé, pg 105).

Assim ela ganha também outros títulos que perduram até hoje na igreja como o de advogada e mãe dos viventes.

Século III

Durante o século III surge uma nova heresia conhecida como sabelianismo conhecida também como modalismo, monarquismo modalista ou monarquismo modal ou ainda como patriparssionismo. Esta heresia recebia o nome de sabelianismo por causa de seu defensor um padre teólogo chamado Sabélio. Ele alegava que só existia um só Deus, porém com diferentes “modos” ou “aspectos”.
Neste período também surge os primeiros títulos de a Mãe de Deus como mostra um papiro Egípcio datado deste século conhecido como Sub tuum praesidium.
“Sob tua proteção e tua misericórdia, ó Theotókos, nós nos refugiamos. Não desprezes os
Catacumbas de  Priscila, Roma, início do século III.

pedidos que te dirigimos nas nossas tribulações, mas salva-nos do perigo, tu a única que és casta e bendita”. (curso de mariologia, acesso:
18/11/2011, http://moodle.pucrs.br/file.php/32341/Aula_2/texto_html/IIIa_Teodokos.htm)
Origines padre da igreja que viveu durante este século também faz alguns relatos sobre a Virgem Santíssima. O interessante que ele já aqui não só retrata a virgindade de Maria como toda a tradição, mas também já acena para o dogma da imaculada conceição.
"Desposada com José, mas não carnalmente unida. A Mãe deste foi Mãe imaculada, Mãe incorrupta, Mãe intacta. A Mãe deste, de qual este? A Mãe do Senhor, Unigênito de Deus, do Rei universal, do Salvador e Redentor de todos." (Orígenes - homilia inter collectas ex variis locis). (wikipedia , acesso; 18/11/2011,http://pt.wikipedia.org/wiki/Or%C3%ADgenes#Maria_no_Cristianismo).

 Séculos IV & V

Durante o século IV os cristãos se viram em meio a grandes controvérsias Cristo lógicas e por conseqüência também sobre Maria.  Primeiro tiveram que enfrentar a heresia ariana a qual dizia que Jesus não era Deus. Para ele Jesus era o verbo de Deus que se encanou, mas não era Deus e sim uma criatura. Por tanto Maria seria somente mãe de uma criatura de Deus.  Para combater esta heresia e orientar o rebanho do Senhor de forma correta,  foi convocado o concílio de Nicéia no ano 325 onde foi condenado o Arianismo afirmando que a natureza do Filho é igual a do Pai sendo assim: “Jesus é “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”” (Credo do Povo de Deus, PP Paulo VI).  A partir deste momento ouve-se cada vez mais o titulo de Mãe de Deus.
Santo Atanásio (295-373) que segundo São Cirilo de Alexandria (315-386) lhes transmitiu este título pelo livro que escrevera sobre a santa e consubstancial Trindade. Mas segundo S. Cirilo existiam muitos que não concordavam dar este titulo a Maria.

 “Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. Realmente, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou?” (Prof. Felipe Aquino, Escola da Fé, Vol I pg 102).

Em quanto para alguns era bastante claro o título de Theotókos. São Cirilo de Alexandria nos demonstra que mesmo depois de ser condenado o arianismo, muitos tinham problemas em declarar Maria como Mãe de Deus, porém o problema ainda era a pessoa de Jesus, pois muitos padres naquela época tinham dúvida sobre o Senhor.
Durante o século IV ainda prevaleceu as dúvidas entre os padres, porém no século V houve um amadurecimento maior sobre o título durante o concílio de Éfeso ( 431). Com a definição de Jesus como Deus (na verdade Ele sempre foi e essa sempre foi a fé da Igreja) (Nicéia 325) criou-se outro problema.
Existiam nesta época duas escolas teológicas, a de a de Alexandria e a de Antioquia. Onde a escola de Alexandria dizia que a natureza Humana de Jesus era tão uma só com a de Deus que chegava a só existir somente uma. Já Antioquia tinha a tendência de separar de mais onde para Nestório (386-451) patriarca de Constantinopla que era natural de Antioquia, dizia que em Jesus existia duas Pessoas uma humana e outra divina e por tanto para ele Maria só poderia ser mãe da pessoa humana.
O concílio de Éfeso então proclamou o dogma da maternidade divina de Maria dando assim o título oficial a Maria de Theotókos.
““ Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela a sua natureza divina, mas porque é dela que Ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne.”(DS 251)”. (Credo do Povo de Deus, PP Paulo VI).
Com isso agora de maneira oficial a igreja proclamava Maria Theotókos titulo que já era bem comum antes do concílio e que muitos ainda não aceitavam. Maria, portanto durante os séculos IV e V era conhecida como Mãe de Deus, mas foi preciso um concílio oficializar o titulo para que toda a igreja assim a conhecesse.
Ainda podemos encontrar durante estes séculos escritos de Santo Agostinho que dizia:
“Pelo sexo feminino caiu o homem e pelo sexo feminino encontrou sua reparação. Pois uma Virgem deu à luza Cristo, e uma mulher anunciou a ressurreição!
Pela mulher veio a morte. Pela mulher chegou a vida” (Sermão 232,2)
“Nem se deve tocar na palavra “pecado” em se tratando de Maria; e isto em respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo o pecado por sua graça”.
“Nosso Senhor entrou por sua livre vontade no seio de Virgem... Engravidou sua Mãe, todavia sem privá-la da sua virgindade. Tendo-se formado a si mesmo, saiu e manteve íntegras as entranhas da mãe. Desta maneira, revestiu aquela de quem se dignou nascer, com a honra de mãe e com a santidade de virgem.”
“Que significa isso? Quem pode dizê-lo? Quem pode calar? Coisa admirável. Mas não nos é permitido calar aquilo de que somos incapazes de esclarecer... Não obstante, sentimo-nos constrangidos a louvar, para que nosso silêncio não seja sinal de ingratidão. Graças sejam dadas a Deus! Aquilo que não se pode exprimir dignamente, pode-se crer firmemente” (Sermão 215,3)
“Maria permaneceu virgem concebendo o seu Filho, virgem ao dá-lo à luz, virgem ao carregá-lo, virgem ao alimentá-lo do seu seio, virgem sempre”(Sermões 186,1 – 3º de Natal).
“Na verdade era digno, e de todo conveniente, que o parto daquela que havia procriado ao Senhor do céu e da terra, e que permanece virgem após ter dado à luz, fosse celebrado não somente festejos humanos, mas com cânticos sblimes de louvor, pelos anjos”. (Sermão 193, 1 – 10º do Natal).
“Causa-te estranheza, [ó Porfírio] porventura, o inusitado parto de uma Virgem? Nem sequer isto deve constranger-te. Digo mais: isto deve conduzir-te  a aceitar a ter piedade, porque aquele que é admirável nasce admiravelmente” (A Cidade  de Deus, X,29,1,2).
Ainda neste período encontramos textos de Santo Epfânio que diz:

““Voltando-se o Senhor, viu o discípulo a quem amava
e lhe disse, a respeito de Maria: 'Eis aí tua Mãe';
e então à Mãe: 'Eis aí teu filho'” (Jo 19,26).
Ora, se Maria tivesse filhos, ou se seu esposo ainda estivesse vivo, por que o Senhor a confiaria a João, ou João a ela? Mas, e também por que não a confiou a Pedro, a André, a Mateus, a Bartolomeu? Fê-lo a João, por causa de sua virgindade. A ele foi que disse: "Eis aí tua mãe".
Não sendo mãe corporal de João, o Senhor queria significar ser ela a mãe ou o princípio da virgindade: dela procedeu a Vida. Nesse intuito dirigiu-se a João, que era estranho, que não era parente, a fim de indicar que sua Mãe devia ser honrada. Dela, na verdade, o Senhor nascera quanto ao corpo; sua encarnação não fora aparente, mas real. E se ela não fosse verdadeiramente sua mãe, aquela de quem recebera a carne, e que o dera à luz, não se preocuparia tanto em recomendá-la como a sempre Virgem. Sendo sua Mãe, não admitia mancha alguma na sua honra e no admirável vaso de seu corpo.
Mas prossegue o Evangelho: "e a partir daquele momento, o discípulo a levou consigo".
Ora, se ela tivesse esposo, casa e filhos, iria para o que era seu, não para o alheio.
Temo, porém, que isso de que falamos venha a ser deturpado por alguns, no sentido de que pareça estimulá-los a manter as mulheres que dizem companheiras e diletas - coisa que inventaram com péssima intenção.
Com efeito, ali (no caso de João e da Santíssima Virgem) tudo foi disposto por uma providência especial, que tornava a situação desligada das obrigações comuns que, conforme a lei de Deus, se devem observar. Aliás, depois daquele momento em que João a levou consigo, não permaneceu ela longamente em sua casa.
Se alguém julgar que estamos laborando em erro, pode consultar a Sagrada Escritura, onde não achará a morte de Maria, nem se foi morta ou não, se foi sepultada ou não. E quando João partiu para a Ásia, em parte alguma está dito que tenha levado consigo a santa Virgem: sobre isso a Escritura silencia totalmente, o que penso ocorrer por causa da grandeza transcendente do prodígio, a fim de não induzir maior assombro às mentes.
Temo falar nisso e procuro impor-me silêncio a este respeito. Porque não sei, na verdade, se podem achar indicações, ainda que obscuras, sobre a incerta morte da santíssima e muito bem-aventurada Virgem. Pois de um lado temos a palavra, proferida sobre ela: "uma espada transpassará tua alma, para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações" (Lc 2,35). De outro lado, todavia, lemos no Apocalipse de João (Ap 12), que o dragão avançou contra a mulher, quando dera à luz um varão; e que foram dadas a ela asas de águia, de modo a ser transportada para o deserto, onde o dragão não a alcançasse. Isso pode ter-se realizado nela. Embora eu não o afirme totalmente. Nem digo que tenha ficado imortal nem posso afirmar que tenha morrido. A Sagrada Escritura, transcendendo aqui a capacidade da mente humana, deixa a coisa na incerteza, em atenção ao Vaso exímio e excelente, de sorte que ninguém lhe atribua alguma sordidez própria da carne. Portanto, se ela morreu, não sabemos. E mesmo que tivesse sido sepultada, jamais teve comércio carnal: longe de nós essa blasfêmia! Quem ousaria, em furor de loucura, impor esse opróbrio à santa Virgem, erguendo contra ela a voz, abrindo a boca para uma afirmação assim nefanda, ao invés de lhe entoar louvores? quem iria desonrar assim o Vaso digno de toda honra?
Foi a ela que prefigurou Eva, ao receber o título, um tanto misterioso, de mãe dos viventes (Gn 3,20). Sim, porque o recebeu depois de ter escutado a palavra: "tu és terra e à terra hás de tornar", isto é, depois do pecado.
Numa consideração exterior e aparente, dir-se-ia que de Eva derivou a vida de todo o gênero humano, sobre a terra. Mas na verdade é de Maria que deriva a verdadeira vida para o mundo, é ela que dá à luz o Vivente, ela a Mãe dos viventes. Portanto, o título de "mãe dos viventes" queria indicar, na sombra e na figura, Maria.
Com efeito, não se aplica, porventura, às duas mulheres aquela palavra: "quem deu a sabedoria à mulher, quem lhe deu a ciência de tecer?" (Jo 18,36)
Eva, a primeira mulher sábia, teceu vestes visíveis para Adão, a quem despojara. Fora condenada ao trabalho. Já que tinha sido responsável pela nudez dele, precisou confeccionar a veste que cobrisse essa nudez externa, que cobrisse o corpo exposto aos sentidos.
A Maria, porém, coube vestir o cordeiro e" ovelha; com cujo esplendor e glória, como se fora uma lã, foi confeccionada sabiamente para nós uma veste, na virtude de sua imortalidade.
Outra coisa, além disso, pode considerar-se em ambas - Eva e Maria - digna de admiração. Eva trouxe ao gênero humano uma causa de morte, por ela a morte entrou no orbe da terra; Maria trouxe uma causa de vida, por ela a Vida se estendeu a nós. Pois o Filho de Deus veio a este mundo, para que" onde abundara o delito, superabundasse a graça" (Rm 5,20). Onde a morte havia chegado, chegou a vida, para" tomar seu lugar; e aquele mesmo que nasceu da mulher para ser nossa Vida haveria de expulsar a morte, introduzida pela mulher.
Quando ainda virgem, no paraíso, Eva desagradou a Deus, por sua desobediência. Por isso mesmo, emanou da Virgem a obediência própria da graça, depois que se anunciou o advento do Verbo revestido de corpo, o advento da eterna Vida do Céu.( GOMES, C. F. Antologia dos Santos Padres. Ed. Paulinas - São Paulo, 1979)” (http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_epifanio_os_ultimos_dias_de_maria.html, acesso 18/11/2011)
Conclusão

Concluímos que a figura de Maria durante todos os séculos iniciais da igreja esteve sempre presente de uma forma carinhosa, respeitosa e a qual ajudou em muitos casos a compreender melhor a figura de seu Filho e a guiar os fieis através dos estudos dos santos padres para o correto entendimento da fé.

Referências Bibliográficas

A Cidade  de Deus, X,29,1,2
Sermão 193, 1 – 10º do Natal
Prof. Felipe Aquino, Escola da Fé vol I
Contra as Heresias V, 19,1
Daniel-Rops, A Igreja dos apóstolos e dos Martires Quadrante
Credo do Povo de Deus, PP Paulo VI

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